sexta-feira, 13 de julho de 2012

A cartilha dos BRS



Andando de táxi por Copacabana, perguntei ao motorista: "O senhor achou bom esse esquema de BRS?". O taxista respondeu na mesma hora que para o transporte público aquilo foi muito bom, mas para carros particulares... Era só olhar o trânsito parado na faixa lateral esquerda.

Ele foi implementado pela primeira vez em Copacabana, em fevereiro de 2011, e deu tão certo que se estendeu por grande parte da cidade. O sistema BRS, ou Bus Rapid System, são os corredores demarcados exclusivamente para ônibus, táxis e carros de serviços, com o objetivo de organizar e melhorar o trânsito da cidade.


Além das vias exclusivas para o transporte público, o BRS "classificou" os ônibus em categorias, estipulando onde cada categoria poderia fazer sua parada para deixar e buscar passageiros. Ônibus BRS 1 só pode parar em pontos do BRS 1, e assim vai. Na zona sul do Rio são 3 categorias de BRS mas existem ainda os BRS 4 e 5 para paradas em pontos específicos.


De dentro do meu táxi, andando quase que livremente e olhando a via ao lado toda engarrafada, pensei que boa ideia para estimular o transporte público. Se o carioca quiser fugir do trânsito, terá que deixar seus carros particulares e usar o coletivo. Bem legal.


Porém, andando de ônibus outro dia, já não achei tão legal assim... 


Parei num ponto que dizia BRS 2 e listava alguns ônibus que, por conhecer a numeração, sabia que passavam pela praça na qual eu ia saltar. Pra esse destino, outros ônibus também serviam, mas não eram todos que paravam no ponto que estava. E, graças a Lei de Murphy, claro que só passaram os que iam para meu destino e não paravam no meu ponto. Um bom tempo aguardando, o bendito ônibus apareceu. Subi e perguntei se ele passava na praça. "Passar eu passo, só não paro". Desci, me informei e fui para o ponto do BRS 3, que havia mais ônibus que param na praça que eu precisava ir. 


Mais um tempo aguardando, entrei em um que parava um ponto antes da praça. Andar um quarteirão não é problema pra mim mesmo. Pensei nos mais idosos, em crianças pequenas, em pessoas com qualquer dificuldade. A acessibilidade deste projeto parece bem complicada. Saltei, andei até a praça e fui para o ponto pegar o meu segundo ônibus. Descobri que naquele ponto meu ônibus não parava. E ninguém sabia qual era o BRS do ônibus que eu precisava, nem eu. Dizem que a distância é de 500m, em média, entre cada ponto dos grupos. 


Andei até o ponto seguinte. Nada do meu ônibus. Caminhando até o terceiro ponto, meu ônibus passou! Achei o terceiro ponto e aguardei quase meia hora pelo próximo. Subi e nem quis saber se ele iria parar no meu destino. A essa altura do campeonato, andar quando se paga pelo transporte, acaba sendo economia de academia.


Conclusões bobas a parte, acredito que a primeira experiência do usuário é extremamente importante. Não devemos nos sentir burros ou impotentes utilizando um serviço desses. Eu me senti uma otária. Não entendi porque dentro dos ônibus não tem um mapa com os pontos onde param, como no ônibus do metrô. Sei que na época da implementação foram distribuídas cartilhas para explicar e ensinar. Mas e quem tem necessidades especiais, pode saltar onde precisa, no ponto mais próximo do destino? Será que esse projeto levou em consideração tudo que precisava levar?


O projeto considero até bem interessante, com foco na melhoria do trânsito, ao estímulo do transporte coletivo, até de preocupação com o meio ambiente, já que estamos tirando muitos carros das ruas para utilizar táxis e ônibus. Mas faltou a preocupação com pessoas que já estão a margem da nossa sociedade. Uma preocupação essencial, para incluir e não continuar excluindo. E esta preocupação não deve ser esquecida e nem seria tão difícil para solucionar. Se eles tivessem sido lembrados, é claro. Um projeto dessa magnitude poderia ser mais completo, mais eficiente, menos constrangedor e sem exclusões.


Percebi, ao final disso tudo, o grande ganhador dessa empreitada: o taxista. Foge do trânsito, não tem pontos fixos e desconhecidos, atende todo o público. Eu, pra andar de ônibus novamente, só se estiver bem descansada e de bom humor. Ou então pros destinos que já decorei, nada de destinos novos. Quem sabe van...


Informações sobre os BRS: http://www.fetranspor.com.br/brs/

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